"A minha pátria é a língua portuguesa" - lá dizia o poeta. Para dominar várias línguas, temos de ter várias pátrias? O Inglês é a pátria universal da suposta aldeia global? Se desconstruir a minha língua sou um terrorista antipatriota? Questionar é sempre um bom modo de chegar a algum lado...


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Distorção Verbal (I)

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MÚSICA
...Do grego mousike – arte das musas. Som e silêncio ao longo do tempo. Conceito cultural, social e temporalmente variável (qual a fronteira entre música e barulho?). Ligação pessoal profunda entre música e estilo de vida. Realidade complexa de impossível definição, com única explicação universal de som no tempo. Entidade plena de sentido simplesmente por via da sua audição e vivência. Socialmente compartimentada em géneros e sub-géneros infindáveis, cientificamente unida aos conceitos de melodia, harmonia, ritmo, dinâmica, timbre e textura.
...No princípio, apenas mais uma forma de comunicação e a primeira à distância: ecos de tambores, cheios de vibração; avisos de perigo, medo da solidão e da noite; sinais de amizade e de guerra, nas ondas da percursão. Factor de entrosamento entre homens e distanciamento dos demais animais, música como aldeia global dos tempos tribais.
...Eis um novo modo de expressão, um saber catapultado pela evolução social: o afinado prédio da escrita e da fala.
Descoberta de oxigénio para os humanos e fim de mordaça e de prisão para a música, com o início da História e desenvolvimento da cultura (música como ligação com o sublime e o espiritual, tal como entretenimento e celebração secular na India, China e Grécia Antigas).
...A música do Ocidente, cavalo de guerra que galopa do teatro grego, das liras e cítaras e da educação ateniense; campo fértil que floresce na Era Medieval (canto gregoriano, música litúrgica), no Renascimento (música secular), no Barroco (óperas de Haydn e de Mozart), no Romantismo (dramatismo e emoção de Beethoven e Schubert) e manufactura que se industrializa no século xx com a rádio.
...Da tradição oral, nas mentes de artistas de blues e folk (quais contadores de estórias na pré-história), à expressão escrita de notas e ritmos no papel (em forma de pauta ou tablatura) sempre com a mesma força na actuação musical. Da dicotomia ensaio/repentismo à reacção do público (desde a auto-satisfação do improviso solitário à satisfação de massas em rituais performativos altamente planeados e organizados, como procissões, concertos, mostras, festivais). Da aclamação popular à divisão suspeita entre cultura elevada e cultura popular: em música artística de concertos formais e audiência passiva e música de massas de objectivo comercial e com audiência participativa e/ou eufórica (distinção alicerçada na classe social e nível sócio-económico dos artistas e audiências e não no valor musical ou qualidade intrínseca da música).
...O prazer estético, um propósito religioso e cerimonial ou o produto de entretenimento para o mercado como objectivos básicos da produção musical. A companhia pessoal, o incómodo do silêncio, a identificação pessoal ou grupal, uma ajuda para o estudo, um apoio contra as adversidades, um modo de expressão, uma forma de entretenimento ou de escape, o “milagre” de um surdo sentir a música, entre outros tantos efeitos secundários das ondas sonoras de emoção, maré de processos mentais mais complexos que a simples audição.
...Uma revolução de abundância musical nos países industriais desde meados do século xx: “Big Bang” de escolha musical e facilidade de acesso à música com o Karaoke, o MIDI e a Internet. Explosão da música gravada, o mp3 como formato-rei e a industria musical em agonia, quando o consumidor não só consome mas também cria (comunidades on-line, mashes, remixes e music videos).
...Das notas ao ouvido, dos instrumentos à sinfonia, dos vocais à canção, do ritmo à diversão, do silêncio à magia, da eternidade ao prazer do momento.
...No início era o verbo.
...Mas sem ele existe a música.
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(aos festivais. Obrigado Ana e Wikipedia
....pela ideia e pesquisa, respectivamente)

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