É estonteante procurar dominar
uma Língua de tradição milenar
que tanto é concisa como matreira,
tanto é imprecisa como certeira.
É enervante tentar encontrar a palavra e a frase certas
em expressões sempre mutáveis e abertas
a novas formulações e novos significados:
tanto nos perdemos em nomes e adjectivos,
como em advérbios e predicados.
É avassalador ter um vislumbre
de quanto a nossa existência é moldada
em torno da língua materna.
Sempre que dela nos tentamos livrar,
damos um passo maior que a perna.
Nunca é irrelevante o papel da Língua:
cede-nos características e traços de personalidade próprios;
permite-nos exprimir originalidade individual e afecto colectivo;
dá-nos o sentir, a comunicação, o saber; a vibração, o ser;
envolve-nos numa cultura que é tanto berço como contexto
e destino, tanto é razão como imaginação,
tão realidade quanto sonho.
(a pedido de muitas [zero] famílias)